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A Porta


 
Chegou em casa com os livros.

A chuva não os molhou,

Pois estavam envoltos na sua jaqueta impermeável.

Estranha chuva, aquela,

Repentina,

No meio de um verão causticante.

Sua mãe não havia chegado do trabalho,

Seu pai estava viajando.

Ligou o som,

Blue Oyster Cult.

Sentou-se no sofá,

E começou a namorar os livros

Recém-adquiridos no sebo.

Um dos livros,

Comprara visando inspirar-se

Para escrever seus contos de terror.

Um livro de magia,

Um grimório.

Folheou o volume,

Sentindo prazer em tatear as páginas

Amareladas,

Repletas de anotações de antigos donos.

Não, não eram vários,

A caligrafia era a mesma até a última folha.

Voltou para a folha de rosto.

L.’. N.’.

Achou engraçada aquela abreviação,

Que, como uma chave, desencadeou diversos nomes

Na sua mente.

O disco terminou. Ele estava sonolento.

Foi para o quarto,

E continuou folheando o livro

Deitado na cama.

Olhou demoradamente para a capa.

Uma porta prateada,

E sobre ela, o título,

“A Porta Mestra”.

Achou o nome fraco,

E voltou a folhear,

Detendo-se nos símbolos e fórmulas,

Nas estranhas descrições cerimoniais.

Caiu no sono.

Teve sonhos estranhos,

Em que percorria vielas escuras,

E entrava em cavernas ocultas

Em lareiras de pocilgas medievais.

Numa destas cavernas,

Encontrou um velho maltrapilho,

De vastos cabelos e pele negra.

O velho sorriu,

E transformou-se num imenso lobo.

Um lobo negro!

Acordou, assustado.

O livro jazia ao lado da cama.

Sentiu o cheiro do café.

Sua mão chegara.

Pegou o livro

E o pôs sobre a cômoda.

Entre uma xícara e outra de café,

Sentiu um frio percorrer-lhe a espinha.

Uma associação se fizera na sua mente,

Entre o sonho, e velho, e o livro.

L.’. N.’.

As iniciais de Lobo Negro!

Lutou contra sua tendência a mistificações.

E começou a pensar em um novo conto.

Um livro de contos.
Os Contos do Lobo Negro.

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